23/03/2009

Formatura

Amanhã é colação de grau.
Vai ser um saco, realmente.

Um burocrata me entrega um papel, um aluno mala faz um discurso, alguns professores picaretas são homenageados e uma certa quantidade de alunos recebe diplomas e aplausos.
Grande merda.

Para piorar, não vou poder usar um sapato confortável, vou ter de pintar a cara e aguardar duas longuíssimas horas dentro de um vestido "esporte fino", por um propósito que certamente não vale o esforço de aguentar o salto alto nem a poeira da sombra ou a fagulha do rímel irritando meus olhos. Neste ambiente também não se pode roer unhas, acabar os Irmãos Karamazóv quietinho, nem bufar. Isso eu pressinto.

Enquanto aquele monte de gente vai sendo chamada e aquele monte de parente babão se comove com a formatura do filho, provavelmente vou estar com aquela senhora cara de bunda, me implodindo em críticas infindas sobre o meu curso, meus professores, meus colegas, a burocracia universitária que confina a arte à teoria e que torna a prática musical numa punhetação de escalas afinadas, de repertório que promova um bom status, bastante velocidade para impressionar, e, claro: aquele discursinho afiado na língua. Um discursinho com colagens de citações diversas regurgitadas sem filtro e sem critério, daqueles filósofos ou musicólogos de sempre, com todos os preconceitos e ransos que vem de brinde com algumas aulas e alguns professores. Tanto texto, tanto argumento, tantas traquitanas sociais, tanto protocolo de relacionamento, tanta máfia de supostos poderes para esconder uma realidade bizarra: ali, música é a última coisa que se faz. Quando é feita.

Portanto, não há nada a ser comemorado; aquela celebração é o lacre na minha boca que comprova que eu girei com a máquina e não fiz nada para mudá-la. Nada além de me proteger individualmente e não me permitir corromper.

O único deleite nisto tudo é: hoje em dia eu tenho MUITO mais prazer em fazer música do que nos últimos 6 anos e 6 meses. E isso não é amadurecimento: é sair do cárcere e não estar sujeito aos humores ou politicagem de uma estrutura colada com muita lábia e muita merda.

E sim, cuspa no prato em que comeu.
Especialmente se a comida que te deram estava envenenada.