15/05/2009

Deixa de ser banana, pô!

Eu, você, uns amigos e familiares trabalhamos.
Nós fizemos uma vaquinha e conversamos com Zé:
- Olha, Zé, esse mês vamos fazer uma coisa diferente: já que você não sabe cozinhar, não tem força para levantar tijolo, não tá afim de fazer arte, não sabe ensinar, não consegue curar ninguém, nem inventar nada de bom, nem pensar muito bem, vamos te dar um trabalho. É jogo rápido, tarefa simples. Fizemos uma vaquinha aqui entre nós e vamos dar 37% do nosso salário para você fazer o seguinte: pagar a escola da molecada, o hospital, a prestação das nossas casas, os bilhetes para a gente assistir uma apresentação no teatro, para pagar o cara que limpa o chão, o que carimba papel, o que apaga fogo e o que pega bandido. Pode ser assim?
- Pode, claro. Prometo que vou fazer o melhor de mim.
- Não tem o melhor de si para fazer. É só fazer o que tem de ser feito.
- Tudo bem.
- Damos 37% do nosso dinheiro para você e você paga o que tem de ser pago. Entendido?
- Entendido.
- Então é isso. Toma a grana, pague o que tem de ser pago e vamos te dar um salário bom, uma roupa boa e transporte para vc ir para os lugares resolver essas coisas.
- Ótimo.

Agora imagine que nós todos os meses passamos a dar a grana para o Zé. Mas de repente vemos o Zé passeando de carro novo, caro. Seguimos o Zé até a sua nova casa, que é enorme, cara, num bairro chique. O Zé agora tem uma namorada bonita e para agradá-la paga uma viagem para ela e para a sogra para que passeiem por Paris, fiquem num hotel bacana, comprem roupas novas... O próprio Zé agora se veste com roupas luxuosas, viaja bastante, faz compras em supermercados caros, come em restaurantes caros...
Em contrapartida, percebemos que a escola da molecada está cada vez mais caída, que os hospitais não conseguem atender a gente direito, que vieram bater em nossa porta dizendo que a casa não é mais nossa, que outros colegas já caíram em desgraça e passaram a mendigar e passar fome, que já não têm mais como pagar tudo o que tem de ser pago e ainda sobreviver.
Não, o Zé não ganhou na megasena acumulada. O Zé roubou nosso dinheiro. Ele pegou nossos 37% de salário e comprou casa, carro, viagens, mulheres, roupas, luxo.

Nós sentimos que a vida se tornou insuportável. Percebemos que os nossos direitos não estavam mais sendo respeitados e que tínhamos apenas obrigações.
Mas não sabíamos mais por que a vida estava piorando. Fomos nos acostumando com a escola ruim, o hospital decadente, a falta de teto e de respeito. Fomos nos tornando fracos, medrosos, mesquinhos e covardes. Quando víamos o Zé passar com o carrão, sorríamos para ele e acenávamos com admiração no olhar "ah, se um dia eu ficasse assim...".

Nunca mais ninguém lembrou do dinheiro que dava para o Zé todo mês, embora todo o mês todo mundo desse 37% do salário para o Zé.
Nunca mais ninguém lembrou que o Zé trabalhava para o pessoal que fez a vaquinha e que o dinheiro que deveria pagar as contas de todos estava pagando a conta só do Zé.
Nós deixamos de perceber que os direitos ainda existiam, mas não estavam sendo atendidos.
A gente esqueceu que o Zé trabalha pra gente; O Zé é nosso funcionário e como qualquer funcionário, que deixa de funcionar, deve ser mandado embora.
A gente não conseguia ver o Zé todo milionário e bacana como o bandido que roubou nosso dinheiro; a gente não queria que ele devolvesse nosso dinheiro e fosse preso. A gente esqueceu o que é justiça e que bandido vai pra cadeia.

A gente esqueceu tudo, até o que é gente.



*******


A população brasileira gasta 37% do seu salário pagando impostos.
Os cofres públicos do Brasil ganham POR SEGUNDO R$33. 409,87 (mais de um 2 milhões de reais por minuto).
A arrecadação do ano passado foi de R$1,056 trilhão (1 TRILHÃO, porra!!!)
Deste 1 trilhão de reais só 68% foi investido.
Ou seja, 32% do nosso dinheiro foi desviado para não se sabe onde, não se sabe quem.
Quer dizer que no ano passado R$ 337.920 bilhões foram roubados da gente.
Isto também quer dizer que por dia os brasileiros são roubados em mais de R$5 milhões.


*****


Vamos dormir mal hoje.
Amanhã a gente acorda com raiva e começa a fazer alguma coisa.